Apesar disso tudo, não consegue processar qualquer coisa irracional ou intangível. Emoções são um mistério para ele. Sonhar ou imaginar é algo totalmente estranho. Zoe, para ajudá-lo, criou para ele, o Museu das Coisas Intangíveis, com instalações conceituais artísticas complexas, improvisadas no porão de sua casa.
Medo, inveja, coragem, despreocupação, verdade, perdão, vergonha: e tantos sentimentos que ela tenta ilustrar e definir para ele todos os dias. Zoe acredita que Hannah, sua melhor amiga, não tem controle sobre as coisas intangíveis da vida.
Um dia, Zoe convence Hannah pegar a estrada juntas, e assim como fez com seu irmão, ela começa a expor sua amiga a situações que procuram mostrar o significado e o valor de todas essas coisas, fazendo com que ambas percebam o que realmente querem da vida.
Título: O Museu das Coisas Intangíveis
Autora: Wendy Wunder
Editora: Novo Conceito
Quantidade de páginas: 256
Ano: 2018
Avaliação (de 0 a 5): 4,0

O Museu das Coisas Intangíveis, de Wendy Wunder, é um livro on the road, com aventuras de duas adolescentes que querem fugir da própria realidade. Ele é isso, mas também é muito mais. Por trás dessa viagem maluca de Zoe e Hannah, temos um problema de saúde mental seríssimo e uma busca incessante pelo sentido da vida.
O livro é um pouco diferente da sinopse
Para começar, Noah nem aparece tanto. Ele é a motivação pela qual Zoe resolve fazer instalações artísticas para exemplificar sentimentos complexos e explicá-los de forma teórica para um criança com autismo. Mas na verdade, o Museu das Coisas Intangíveis acaba sendo a viagem que as duas amigas fazem, com Zoe exemplificando cada lição para amiga por meio de alguma ação nova.As duas têm uma vida mediana e monótona. Zoe é charmosa, imprevisível e bipolar. Esse último detalhe passaria despercebido em uma história qualquer, mas é a chave de tudo o que acontece com as duas. Já Hannah é certinha, tímida e sempre coloca as necessidades dos outros (especialmente dos seus pais) na frente das suas.
A viagem pelos Estados Unidos tem significado diferente para ambas. Hannah quer se desligar de todas as decepções da sua vida e Zoe parece estar perseguindo um objetivo que a amiga ainda não consegue entender... O que faz as duas passarem por aventuras loucas na IKEA, num bar de caubóis, em Las Vegas, onde você puder imaginar.
O que eu achei de O Museu das Coisas Intangíveis
O livro começou leve e instigante, aí as coisas caminham por um terreno perigoso (que nunca chega a ser completamente esclarecido) e você fica "nossa, as coisas realmente não são tão leves como imaginamos", até percebermos o quão complicada é a relação de Zoe e Hannah.Zoe é bipolar e todas as suas ações do livro decorrem disso, na minha opinião. A autora lança um aura de dúvida sobre as histórias que a moça conta (para pensarmos "ela é bipolar mesmo ou tudo o que ela diz é verdade?"), mas a minha percepção é que tudo gira em torno de uma garota muito introvertida que se deixa guiar por outra garota que não está no seu estado de lucidez completo.
Falar de bipolaridade não é fácil, mas me preocupa quando as personagens com essa condição são tratadas com certo glamour (como se isso fosse um adorável charme da sua personalidade) e isso acontece um pouco com Zoe. Tá certo que vemos o quão longe pode chegar esse transtorno, mas criar uma atmosfera dúbia (como se ela pudesse estar certa) tira o foco de que isso precisa ser tratado. E de que pessoas como Hannah precisam buscar ajuda para a amiga também.
A amizade das duas é muito forte. Muito mesmo. Então, até que ponto a lealdade deve ir? Tudo parece muito divertido até Hannah perceber que a amiga não está tão bem assim. É aí que o livro solta de vez a aparência de levinho para trazer uma profundidade que eu não esperava.
Sei que as duas são adolescentes, mas senti falta de que Hannah tivesse uma percepção melhor sobre toda a viagem em si, já que ela era uma garota tão inteligente e observadora. Só no final podemos ver melhor esse lado dela, mas o livro teria sido muito mais rico se ela se lidasse com esse conflito por mais tempo.
Gostei que os rapazes têm suas participações importantes, mas a história se foca mesmo na amizade das duas, em como elas conseguiam criar o próprio universo juntas. Só queria que o Noah tivesse aparecido mais na história em vez de ser meio esquecido em alguns momentos pelo enredo.
Então, vale a pena ler esse livro?
O Museu das Coisas Intangíveis se parece com um desses livros do John Green, fofinhos por fora, mas com uma bagagem bem densa por dentro. Apesar de que a questão da bipolaridade de Zoe e do autismo de Noah merecessem uma abordagem mais madura, é sempre interessante ver esses assuntos em livros YA. A autora mostra que dá para falar desse tipo de temática sem soar pesado demais.Então, esse é um livro bem interessante. Se você está procurando um livro YA que entre por um caminho fora do convencional, essa história pode surpreender você. Sem falar que é sempre ótimo ver protagonistas femininas liderando a narrativa sem grandes ajudas e mostrando o poder que uma amizade pode ter (e até onde ela pode fazer a diferença).
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