[Resenha] Justiça a Qualquer Preço - John Grisham

Mark, Todd e Zola ingressaram na faculdade de Direito porque queriam mudar o mundo e torná-lo um lugar melhor. Fizeram empréstimos altíssimos para pagar uma instituição de ponta e agora, cursando o último semestre, descobrem que os formandos raramente passam no exame da Ordem dos Advogados e, muito menos, conseguem bons empregos.

Quando ficam sabendo que a universidade pertence a um obscuro operador de investimentos de alto risco que, por acaso, também é dono de um banco especializado em empréstimos estudantis, os três se dão conta de que caíram no grande golpe das faculdades de Direito.

Então eles começam a bolar uma forma de se livrar da dívida esmagadora, desmascarar o banco e o esquema fraudulento e ainda ganhar alguns trocados no caminho. Mas, para isso, precisam abandonar a faculdade, fingir que são habilitados a exercer a profissão e entrar em uma batalha contra um bilionário e o FBI.

Título: Justiça a Qualquer Preço
Autor: John Grisham
Editora: Arqueiro
Ano: 2018
Número de páginas: 336

Avaliação (de 0 a 5): 3,0

Embora tenha uma premissa digna de cinema, Justiça a Qualquer Preço é um livro raso e com personagens pouco cativantes. O que vai equilibrar um pouco as coisas é o extenso conhecimento que John Grisham tem do mundo jurídico, o que fornece uma boa base para a história se situar. Serve também de tapa na cara para qualquer um que goste de bajular o estilo de vida norte-americano.



Sobre o que é Justiça a Qualquer Preço?

Mark, Todd e Gordon são amigos de faculdade e estão soterrados de dívidas de crédito estudantil. Quando Gordy começa a apresentar uma crise de saúde mental, sua "namorada", Zola, uma estudante filha de senegaleses ilegais nos EUA, chama os rapazes para ajudá-lo. A partir daí, eles tomam conhecimento da pesquisa que o amigo fez sobre a própria faculdade em que estudam.

Acontece que os universitário norte-americanos adquirem dívidas enormes para pagar os estudos e os protagonistas da história se endividaram para entrar em uma faculdade de pouco prestígio, com poucas chances de aprovar os alunos na prova da Ordem ou em entrevistas de emprego. Eles descobrem que o dono da rede de faculdades está ligado ao banco que fez o empréstimo que resultará em uma dívida excruciante para todos eles.

Sabendo disso, Mark, Todd e Zola decidem exercer a advocacia ilegalmente para ganharem dinheiro sem impostos e poderem aplicar um golpe no milionário que está lucrando com a desgraça deles. Só que não imaginavam que fossem se meter em um emaranhado de muita confusão com a polícia.

Contexto da história: o fim do sonho americano para a nova geração

Para quem pensa que tudo acontece às mil maravilhas nos EUA e só o Brasil não presta, saiba que a geração Y está afundada em dívidas altíssimas de crédito estudantil e com grande dificuldade de pagar os juros. Com o valor caríssimo das universidades norte-americanas, dá pra ver que o dinheiro que Mark, Todd e Zola deviam não era brincadeira.

Ainda era difícil acreditar que tivesse entrado por vontade própria num sistema que permitia a alguém como ela pegar tanto dinheiro assim emprestado, quando a ideia de pagar o que devia era uma impossibilidade absurda.

Nesse aspecto, o livro tocou em um ponto muito interessante e bastante atual. Além disso, a delicada situação dos imigrantes ilegais foi bem abordada e mostrou como o sonho de prosperidade passa longe para quem não nasceu nos EUA. A pesquisa que John Grisham fez para embasar a sua história é bastante completa, o que me fez entender bem o panorama em que estava inserida. No entanto, o que o livro teve de conteúdo rico, teve de personagens sem graça.

Mas, afinal, por que o livro não agradou?

Para começar, a história só começa a acontecer de verdade do meio para o final. Até lá, tudo é preparativo para o verdadeiro plot, o golpe contra o golpista. E não precisava dessa volta toda! Até entendo que nós, leitores, precisamos entender que os personagens foram levados ao limite, que as coisas não aconteceram do nada. Mas dava, sim, para resumir algumas situações e ir mais rápido ao ponto. 

Outra questão é o quão rasos os personagens são. Mark e Todd guardam poucas diferenças entre si (Mark é o que faz uma burrada incrível), a ponto de eu simplesmente esquecer quem tinha feito o quê, como se eles fossem o mesmo personagem que tivesse se dividido em dois. 

Zola, por outro lado, tem uma história fascinante, com sua luta para sobreviver e para lidar com a deportação da família. Mas todo esse potencial é perdido porque toda ação que ela faz é motivada pela ação de outros (sua família é deportada, seu namorado precisa de ajuda, seus amigos a convencem a participar do esquema etc). Vemos muito pouco da personalidade real da Zola. 

E eu nem vou começar a falar das ações irresponsáveis de Mark e Todd (para além do golpe previsto na sinopse), nos encontros com uma femme fatale bem estereotipada e no completo desleixo deles para resolver as pontas soltas que deixam pelo caminho. O meio pro final engata um ritmo legal e consegue segurar a leitura e, se você chegou até lá, vale a pena persistir para ver o desenrolar dos acontecimentos.

Então, vale a pena investir em Justiça a Qualquer Preço?

Acredito que os leitores fiéis de John Grisham e leitores que adoram um drama jurídico (vale também dar de presente para aquele amigo que tá se formando em Direito!) vão embarcar mais nessa leitura. Para quem não curte essa área, eu não recomendaria. Mas que daria uma boa série de TV, isso daria!

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